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O burocrata. O ativista. A imagem que vem à cabeça é a do funcionário observando, da janela de sua sala com ar condicionado, um protesto na rua. E se os dois adjetivos se referirem à mesma pessoa? E se o Estado, tido como espaço frio e anônimo, guardar em seus bastidores o calor vibrante da experimentação, as controvérsias, as interpretações, os fios que se ligam a complexas redes internas e externas? E se as instituições, descritas pela ciência política em geral como contextos determinantes – até mesmo restritivos – da ação dos indivíduos, mostrarem-se habitadas por atores com agência? E se os servidores públicos não agirem nem como tecnocratas autocentrados, nem com a idealização dos heróis, mas se revelarem empenhados em avançar valores de igualdade e justiça? E se tudo isso já vinha acontecendo, de modo invisível, em cenários diversos do Estado, esperando apenas que as lentes da pesquisa se direcionassem a eles e que se inaugurassem percepções, questões e conceitos teóricos? Este livro é um convite à criatividade: à que foi demonstrada no ambiente inóspito da burocracia; à que foi exigida na pesquisa e na compreensão do inesperado; e, agora, à do leitor, para que possa ter outra perspectiva do Estado e, a partir do que aqui se vislumbra, abrir-se ao imprevisível. Em um piscar de olhos, o contexto já mudou, a história é desafiada e as ações ativistas podem aparecer com outros contornos, de onde menos se imagina.