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Após a escravidão, a mão-de-obra rural empregada nos canaviais de Pernambuco foi maciçamente submetida ao estatuto de morador de engenho. O período da 'morada' foi consolidado, como elemento da memória coletiva da região, por grandes escritos, particularmente os romances de José Lins do Rêgo e a vasta obra de Gilberto Freyre. Esta literatura deu ao regime de trabalho em que os assalariados rurais moravam nas plantacões de cana-de-açúcar, um verniz de benevolência patronal. Diversas interpretações historiográficas, inclusive marxistas, atribuíram, por sua vez, ao conceito de 'morada' um papel comprobatório na explicação da história do Brasil segundo o evolucionismo cultural. Propõe-se neste livro confrontar tais versões do passado recente da região com as lembranças dos próprios moradores de engenho, expondo sua experiência e opinião a respeito. Destaca-se a importância desta inclusão para um entendimento mais profundo da história da região, renunciando à subalternidade que lhe foi conferida por esta matriz eurocentrada e discriminatória em termos de classe. Contrariando a versão da morada' como memória coletiva acima das classes, os trabalhadores rurais entrevistados não manifestam saudade. Ao contrário, eles descrevem em detalhes um sistema de exploração perfeitamente orquestrado que lhes extorquia suas forças vivas, geração após geração, mantendo-os na mais profunda pobreza possível. Eles reivindicam um futuro diferente para seus filhos e netos, destacando entre as liberdades às quais aspiram, ter terra sua.